Site Oficial do Projeto Garoupa: http://www.projetogaroupa.org
A
inspiração foi trazida das Filipinas, onde os habitantes convivem em
proximidade com o mar, e resultou no Projeto Garoupa, no Brasil, que busca a
reprodução inédita dessa espécie de peixe em cativeiro. O projeto é
desenvolvido pela organização não governamental (ONG) Associação Ambientalista
Terra Viva e foi selecionado em edital público do Programa Petrobras
Socioambiental. O foco é a conservação de populações naturais da chamada
garoupa verdadeira (Mycteroperca
marginata), disse o mestre em biologia marinha e coordenador geral do
Projeto Garoupa, Maurício Roque da Mata Júnior.
A garoupa integra a lista de espécies globalmente ameaçadas de
extinção pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN, do nome em
inglês). Com o intuito de preservar a espécie, o projeto atua em 11 municípios,
sendo sete no estado do Rio de Janeiro (Angra dos Reis, Itaguaí, Mangaratiba,
Paraty, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios) e quatro em São Paulo (Ubatuba,
Ilhabela, Caraguatatuba e São Sebastião). Mata Júnior disse que, a partir de
junho, deve ser apresentada nova proposta para patrocínio. Segundo ele, a ideia
é estender o projeto também para a cidade do Rio de Janeiro.
O Projeto Garoupa tem três frentes de atuação. A primeira
objetiva a caracterização de habitats na parte física e biológica entre o Rio
de Janeiro e São Paulo, por meio de equipes de mergulhos. “A gente pretende com
isso gerar subsídios para a formulação de políticas públicas, trabalhar futuros
planos de manejo das garoupas e ter esses locais como áreas de preservação e de
ecoturismo, para manter a biodiversidade. Tem uma série de fatores que são
interessantes até para a própria pesca”, destacou.
Na base montada em Ilhabela, é feita a larvicultura da espécie,
que envolve a criação de larvas de peixes em cativeiro para reprodução
assistida em tanques. Os pesquisadores querem fazer experimentos com os
alevinos (filhotes recém-saídos dos ovos) soltando-os na natureza, para ver
como vão interagir com as populações naturais. “Além da reprodução que a gente
está conseguindo, vamos colocar alguns transmissores para verificar a sobrevivência
desses animais na natureza.”
Na parte de criação de larvas, as desovas alcançaram 1 milhão de
larvas geradas e estocadas. A taxa de sucesso de 95% na eclosão de ovos é
considerada bastante alta, mas a meta é chegar a 100%, disse o biólogo. Tendo
em vista que a garoupa é um peixe marinho carnívoro, com peso entre 80 quilos e
90 quilos, as sobrevivências finais apresentam taxas não tão elevadas. Por
isso, o desafio agora é trabalhar para aumentar a sobrevivência dos alevinos.
O terceiro objetivo da proposta é a educação ambiental
participativa, com atividades lúdicas. O projeto forma alunos da rede pública
de ensino, pessoas da comunidade, operadores de mergulho e profissionais do
setor de turismo, utilizando várias linguagens, com destaque para oficinas de
áudio e vídeo; contação de histórias, que resgata a cultura tradicional por
meio da oralidade; além de teatro. “Todas as três linguagens tratam de temas
escolhidos pelos moradores locais”. Até agora, foram realizadas 55 oficinas em
sete municípios.
A primeira etapa do projeto deve ser concluída em julho deste
ano. “A gente visualiza como um projeto a longo prazo. Você não consegue
tirar uma espécie de um estado crítico de vulnerabilidade em dois anos. A
proposta é conseguir a renovação do projeto para poder expandi-lo”. Os
pesquisadores querem estudar também a conectividade dessas populações de
peixes, em termos genéticos, para ver se a que ocorre na Região dos Lagos, por
exemplo, é a mesma que está presente nas Ilhas Cagarras, na capital fluminense,
ou no norte do estado de São Paulo.
Mata Júnior disse que os dados do projeto serão divulgados este
ano em congressos nacionais e internacionais, com o objetivo de disponibilizar
as informações para o público e os órgãos ambientais, “que têm poder de legislar,
para que façam um plano de manejo para a garoupa e para os locais que abrigam
diferentes espécies”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário