sábado, 26 de outubro de 2013

Peixes com alto teor de mercúrio

Texto por: Helder Ferreira
Foto: Alexandre Moraes

Com o número atômico 80, o mercúrio é um metal que se apresenta sob a forma líquida. Na indústria, é utilizado na fabricação de termômetros, barômetros, amálgama dentário e empregados como antisséptico em ferimentos. No entanto o grande risco para a população é quando este metal está presente nos alimentos e, no caso de Belém, o perigo materializa-se em um alimento bastante consumido na cidade e um dos mais suscetíveis à contaminação por mercúrio: o peixe.

Pesquisa realizada pelo Grupo de Ecologia Aquática da Universidade Federal do Pará (UFPA), em parceria com o Instituto Evandro Chagas, indica que algumas espécies de peixes consumidos em mercados e feiras de Belém apresentam alto teor de mercúrio, chegando a níveis acima da quantidade recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O estudo foi realizado por Juliana Araújo, aluna de Graduação em Ciências Biológicas da UFPA, sob a coordenação do professor Tommaso Giarrizzo, contou com a colaboração do pesquisador do Instituto Evandro Chagas (IEC) Marcelo de Oliveira Lima. Segundo Juliana, o fato de não haver pesquisas sobre o tema em Belém funcionou como um incentivo inicial, “aqui, no laboratório, já desenvolvemos trabalhos sobre a contaminação de mercúrio. Pesquisamos e descobrimos que, na capital, ninguém havia feito essa análise antes”.

No processo, foram coletadas amostras de peixes carnívoros, onívoros e importados.“Escolhemos os principais mercados e supermercados de Belém para fazer a amostragem. Decidimos ir aos mesmos lugares frequentados pelo consumidor. Nossa opção foi coletar a maior diversidade e trazer para o laboratório”, explica Juliana Araújo.

Metal é varrido do solo pela água da chuva

Os pescados que apresentaram índices de mercúrio acima do recomendado foram tucunaré, cação e pescada branca (peixes carnívoros) e a tainha–curimã (peixe onívoro). A razão apontada pela estudante para a contaminação é o solo da região, rico em mercúrio em razão da antiga formação geológica. Presente no solo, o metal é varrido para os rios pela água da chuva e sofre um processo químico transformando-se em um componente orgânico consumido pelos peixes.

“Os peixes herbívoros consomem plantas que contêm uma pequena quantidade de mercúrio acumulada e tendem a apresentar baixos índices de contaminação. Por sua vez, os onívoros consomem alimentos com índices de mercúrio levemente mais elevados, como: insetos, algas, moluscos e outros peixes. Os carnívoros alimentam-se de peixes já contaminados, por isso apresentam índices mais altos de contaminação”, esclarece Juliana Araújo.
  
Embora esteja comprovada a contaminação de algumas espécies de pescados da Bacia Amazônica, não há registros comprovados do “mercurialismo”, termo utilizado para denominar o conjunto de sintomas proveniente da alta ingestão do metal. “Há diagnósticos de absorção em comunidades ribeirinhas, mas não há relatos de contaminação extrema”, ressalta a estudante.

Segundo Tommaso Giarrizzo, é necessário haver maior controle e vigilância sobre o pescado no Brasil. O professor adverte que não há razão para uma dieta restritiva aos pescados, mas é necessário identificar os locais de pesca onde há risco de contaminação.

“Neste sentido, o estudo foi uma provocação para que as autoridades sanitárias tenham maior cuidado com a fiscalização da qualidade do pescado que está sendo consumido pelos paraenses. A carne bovina, por exemplo, passa por inspeções estadual e federal, além do Controle de Inspeção e Fiscalização (CIF), que se configura como um selo de qualidade do produto”, avalia.


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