Fonte: Jornal beira do rio.ufpa.br
Texto por: Helder Ferreira
Foto: Alexandre Moraes
Foto: Alexandre Moraes
Com o número atômico
80, o mercúrio é um metal que se apresenta sob a forma líquida. Na indústria, é
utilizado na fabricação de termômetros, barômetros, amálgama dentário e
empregados como antisséptico em ferimentos. No entanto o grande risco para a
população é quando este metal está presente nos alimentos e, no caso de Belém,
o perigo materializa-se em um alimento bastante consumido na cidade e um dos
mais suscetíveis à contaminação por mercúrio: o peixe.
Pesquisa realizada
pelo Grupo de Ecologia Aquática da Universidade Federal do Pará (UFPA), em
parceria com o Instituto Evandro Chagas, indica que algumas espécies de peixes
consumidos em mercados e feiras de Belém apresentam alto teor de mercúrio,
chegando a níveis acima da quantidade recomendada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS).
O estudo foi
realizado por Juliana Araújo, aluna de Graduação em Ciências Biológicas da
UFPA, sob a coordenação do professor Tommaso Giarrizzo, contou com a
colaboração do pesquisador do Instituto Evandro Chagas (IEC) Marcelo de
Oliveira Lima. Segundo Juliana, o fato de não haver pesquisas sobre o tema em
Belém funcionou como um incentivo inicial, “aqui, no laboratório, já
desenvolvemos trabalhos sobre a contaminação de mercúrio. Pesquisamos e
descobrimos que, na capital, ninguém havia feito essa análise antes”.
No processo, foram
coletadas amostras de peixes carnívoros, onívoros e importados.“Escolhemos os
principais mercados e supermercados de Belém para fazer a amostragem. Decidimos
ir aos mesmos lugares frequentados pelo consumidor. Nossa opção foi coletar a
maior diversidade e trazer para o laboratório”, explica Juliana Araújo.
Metal é varrido do
solo pela água da chuva
Os pescados que
apresentaram índices de mercúrio acima do recomendado foram tucunaré, cação e
pescada branca (peixes carnívoros) e a tainha–curimã (peixe onívoro). A razão
apontada pela estudante para a contaminação é o solo da região, rico em
mercúrio em razão da antiga formação geológica. Presente no solo, o metal é
varrido para os rios pela água da chuva e sofre um processo químico
transformando-se em um componente orgânico consumido pelos peixes.
“Os peixes herbívoros
consomem plantas que contêm uma pequena quantidade de mercúrio acumulada e
tendem a apresentar baixos índices de contaminação. Por sua vez, os onívoros
consomem alimentos com índices de mercúrio levemente mais elevados, como:
insetos, algas, moluscos e outros peixes. Os carnívoros alimentam-se de peixes
já contaminados, por isso apresentam índices mais altos de contaminação”,
esclarece Juliana Araújo.
Embora esteja
comprovada a contaminação de algumas espécies de pescados da Bacia Amazônica,
não há registros comprovados do “mercurialismo”, termo utilizado para denominar
o conjunto de sintomas proveniente da alta ingestão do metal. “Há diagnósticos
de absorção em comunidades ribeirinhas, mas não há relatos de contaminação
extrema”, ressalta a estudante.
Segundo Tommaso
Giarrizzo, é necessário haver maior controle e vigilância sobre o pescado no
Brasil. O professor adverte que não há razão para uma dieta restritiva aos
pescados, mas é necessário identificar os locais de pesca onde há risco de
contaminação.
“Neste sentido, o
estudo foi uma provocação para que as autoridades sanitárias tenham maior
cuidado com a fiscalização da qualidade do pescado que está sendo consumido
pelos paraenses. A carne bovina, por exemplo, passa por inspeções estadual e
federal, além do Controle de Inspeção e Fiscalização (CIF), que se configura
como um selo de qualidade do produto”, avalia.
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