Centro
de Comunicação do Instituto de Pesca, www.pesca.sp.gov.br, 2 de dezembro de
2013
FORAM
quase dois meses, desde a chegada do peixe ao Laboratório de Taxidermia do
Museu de Pesca de Santos, no dia 26 de setembro, até a finalização, no dia 20
de outubro de 2013, do trabalho de taxidermia do exemplar de pirarucu, Arapaima
gigas, medindo 2,30 metros. Ele habitava o “Acquamundo” - Aquário do Guarujá,
onde viveu 13 anos, aproximadamente. Segundo os biólogos do referido aquário,
sua morte pode ter sido por idade.
A
taxidermia desse peixe foi iniciada com a evisceração, ou seja, a retirada dos
órgãos internos do animal, seguindo-se a retirada da musculatura, deixando o
couro (ou pele) livre de qualquer outro material. Posteriormente, o pirarucu
(cabeça e couro) foi colocado em uma solução de formol, onde permaneceu por 10
dias. A partir de então, começou o enchimento com plástico-bolha, técnica
pioneira no mundo da taxidermia, criada pelo taxidermista Nelson Dreux Costa,
nelsontaxidermia@pesca.sp.gov.br, do Museu de Pesca. “Na fase de acabamento do
exemplar, depois do preenchimento com o plástico, foi a vez da reposição das
escamas do pirarucu, confeccionadas com fibra de vidro, e a recriação dos olhos
da forma mais natural possível. E, para finalizar, a pintura, com aerógrafo,
para ficar com a aparência mais real possível”, descreve Nelson Dreux. Nesse
seu trabalho, Nelson contou com a colaboração voluntária do médico-veterinário
Theo Miranda dos Reis.
A
repercussão internacional do trabalho de Nelson Dreux começou com uma lula, em
exposição no Museu desde 2003, a primeira e única lula taxidermizada do mundo,
que recebeu inclusive um elogio do renomado doutor Clyde F. E. Roper,
zoologista emérito do “Smithsonian Institution”, de Washington, D.C., a maior
autoridade em cefalópodes dos Estados Unidos. Roper interessou-se pela técnica
utilizada em uma peça desse porte.
O
QUE É TAXIDERMIA (EMPALHAMENTO)?
Antigamente
utilizava-se palha ou serragem de madeira para desenvolver a técnica da
taxidermia de um animal destinado a exposições em museus, escolas etc. Desde
2000, no Laboratório de Taxidermia e Técnicas Afins do Museu de Pesca de Santos
(SP), vem se processando uma mudança radical nessa técnica. O taxidermista
Nelson Dreux passou a utilizar plástico bolha e serragem sintética, oriundos de
plástico triturado, ecologicamente correto, recursos esses que, além de não
serem hospedeiros de cupins e brocas, dão maior leveza aos animais e permitem
que a coloração fique, inclusive, mais natural, por não sofrer o efeito da
pigmentação da serragem ou da palha de madeira. Nelson explica que a primeira coisa
que aboliu foi o uso de base de madeira para a fixação dos animais,
substituindo-a por arame, fio de cobre ou de outro tipo de metal flexível, que
ficam esteticamente melhor.
A
taxidermia (termo grego que significa ‘dar forma à pele’) é a arte de montar ou
reproduzir animais para exibição ou estudo. É a técnica de preservação da forma
da pele e do tamanho de animais, utilizada como uma importante ferramenta de
conservação para a criação de coleção científica ou para fins de exposição,
trazendo também uma alternativa de lazer e cultura para a sociedade. Essa
técnica tem como principal objetivo o resgate de espécimes descartados,
reconstituindo suas características físicas e, às vezes, simulando seu
‘habitat’, o mais fielmente possível, para que possam ser empregados como
ferramentas para a educação ambiental ou como material didático. Popularmente,
o termo empalhar já foi usado como sinônimo de "taxidermizar";
entretanto, atualmente não se usam mais os manequins de palha e barro para
substituir o corpo dos animais.
Um
taxidermista é um misto de técnico e artista. Ele transforma o animal morto em
peça didática. O Museu de Pesca, como toda instituição antiga, tem um pé no
presente e outro no passado. E muitas pessoas contribuíram para construir o seu
acervo, algumas anonimamente. No decorrer das décadas, a maioria das peças
taxidermizadas do acervo do Museu foi sendo substituída, pois esse tipo de
coleção é sempre suscetível de modificação. Mas ainda estão expostos objetos
produzidos por diferentes taxidermistas, que, cada um a seu tempo, fazem parte
da história do Museu. Da década de 1970 em diante (não existem registros dos
taxidermistas anteriores), por ordem de antiguidade, foram estes os
taxidermistas que, com técnica e arte, enriqueceram o acervo do Museu:
Durvalino Antônio dos Santos, Sebastião Medeiros, Cássia de Freitas e Waldeney
Gonçalves de Barros. Atualmente, é Nelson Dreux Costa o responsável por essa
importante atividade.
TALENTO
NA ARTE
“Há
alguém no Museu de Pesca, vinculado ao Centro do Pescado Marinho do Instituto
de Pesca, que consegue cuidar, de forma muito carinhosa, dos animais que chegam
sem vida ao Laboratório de Taxidermia e Técnicas Afins, destinados a compor o
acervo biológico da instituição. Alguém que consegue transformar peças
biológicas, muitas vezes em processo de deterioração, em objetos de arte.
Alguém que, paralelamente ao valor indiscutível de seu trabalho, tem também o
grande valor de ser muito estimado por todos: colegas, estagiários e vários
visitantes do Museu que têm a oportunidade de conhecê-lo no exercício de suas
funções. É o profissional Nelson Dreux Costa”, revela Antônio Carlos Simões,
diretor do Centro de Comunicação e Transferência do Conhecimento do Instituto
de Pesca.
O
diretor do Centro do Pescado Marinho, pesquisador científico Roberto da Graça
Lopes, considera merecer ainda destaque a busca criativa e diária que Nelson
Dreux empreende por soluções técnicas que aliem conservação biológica e
apresentação estética do acervo do Museu. “Daí, para se obterem resultados não
bastam dotes artísticos, pois é preciso inovar onde não existem técnicas
prontas. E várias soluções já foram alcançadas e outras se encontram em
processo de aperfeiçoamento, transformando o Laboratório de Taxidermia em um
verdadeiro laboratório de pesquisa biológico-museográfica”, complementa Graça
Lopes.
O
Instituto de Pesca é vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios (APTA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de
São Paulo.
Revisão
do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com
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