quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

INSTITUTO DE PESCA INOVA NA ARTE DA TAXIDERMIA

Centro de Comunicação do Instituto de Pesca, www.pesca.sp.gov.br, 2 de dezembro de 2013

FORAM quase dois meses, desde a chegada do peixe ao Laboratório de Taxidermia do Museu de Pesca de Santos, no dia 26 de setembro, até a finalização, no dia 20 de outubro de 2013, do trabalho de taxidermia do exemplar de pirarucu, Arapaima gigas, medindo 2,30 metros. Ele habitava o “Acquamundo” - Aquário do Guarujá, onde viveu 13 anos, aproximadamente. Segundo os biólogos do referido aquário, sua morte pode ter sido por idade.

A taxidermia desse peixe foi iniciada com a evisceração, ou seja, a retirada dos órgãos internos do animal, seguindo-se a retirada da musculatura, deixando o couro (ou pele) livre de qualquer outro material. Posteriormente, o pirarucu (cabeça e couro) foi colocado em uma solução de formol, onde permaneceu por 10 dias. A partir de então, começou o enchimento com plástico-bolha, técnica pioneira no mundo da taxidermia, criada pelo taxidermista Nelson Dreux Costa, nelsontaxidermia@pesca.sp.gov.br, do Museu de Pesca. “Na fase de acabamento do exemplar, depois do preenchimento com o plástico, foi a vez da reposição das escamas do pirarucu, confeccionadas com fibra de vidro, e a recriação dos olhos da forma mais natural possível. E, para finalizar, a pintura, com aerógrafo, para ficar com a aparência mais real possível”, descreve Nelson Dreux. Nesse seu trabalho, Nelson contou com a colaboração voluntária do médico-veterinário Theo Miranda dos Reis.

A repercussão internacional do trabalho de Nelson Dreux começou com uma lula, em exposição no Museu desde 2003, a primeira e única lula taxidermizada do mundo, que recebeu inclusive um elogio do renomado doutor Clyde F. E. Roper, zoologista emérito do “Smithsonian Institution”, de Washington, D.C., a maior autoridade em cefalópodes dos Estados Unidos. Roper interessou-se pela técnica utilizada em uma peça desse porte.

O QUE É TAXIDERMIA (EMPALHAMENTO)?

Antigamente utilizava-se palha ou serragem de madeira para desenvolver a técnica da taxidermia de um animal destinado a exposições em museus, escolas etc. Desde 2000, no Laboratório de Taxidermia e Técnicas Afins do Museu de Pesca de Santos (SP), vem se processando uma mudança radical nessa técnica. O taxidermista Nelson Dreux passou a utilizar plástico bolha e serragem sintética, oriundos de plástico triturado, ecologicamente correto, recursos esses que, além de não serem hospedeiros de cupins e brocas, dão maior leveza aos animais e permitem que a coloração fique, inclusive, mais natural, por não sofrer o efeito da pigmentação da serragem ou da palha de madeira. Nelson explica que a primeira coisa que aboliu foi o uso de base de madeira para a fixação dos animais, substituindo-a por arame, fio de cobre ou de outro tipo de metal flexível, que ficam esteticamente melhor.

A taxidermia (termo grego que significa ‘dar forma à pele’) é a arte de montar ou reproduzir animais para exibição ou estudo. É a técnica de preservação da forma da pele e do tamanho de animais, utilizada como uma importante ferramenta de conservação para a criação de coleção científica ou para fins de exposição, trazendo também uma alternativa de lazer e cultura para a sociedade. Essa técnica tem como principal objetivo o resgate de espécimes descartados, reconstituindo suas características físicas e, às vezes, simulando seu ‘habitat’, o mais fielmente possível, para que possam ser empregados como ferramentas para a educação ambiental ou como material didático. Popularmente, o termo empalhar já foi usado como sinônimo de "taxidermizar"; entretanto, atualmente não se usam mais os manequins de palha e barro para substituir o corpo dos animais.

Um taxidermista é um misto de técnico e artista. Ele transforma o animal morto em peça didática. O Museu de Pesca, como toda instituição antiga, tem um pé no presente e outro no passado. E muitas pessoas contribuíram para construir o seu acervo, algumas anonimamente. No decorrer das décadas, a maioria das peças taxidermizadas do acervo do Museu foi sendo substituída, pois esse tipo de coleção é sempre suscetível de modificação. Mas ainda estão expostos objetos produzidos por diferentes taxidermistas, que, cada um a seu tempo, fazem parte da história do Museu. Da década de 1970 em diante (não existem registros dos taxidermistas anteriores), por ordem de antiguidade, foram estes os taxidermistas que, com técnica e arte, enriqueceram o acervo do Museu: Durvalino Antônio dos Santos, Sebastião Medeiros, Cássia de Freitas e Waldeney Gonçalves de Barros. Atualmente, é Nelson Dreux Costa o responsável por essa importante atividade.


TALENTO NA ARTE


“Há alguém no Museu de Pesca, vinculado ao Centro do Pescado Marinho do Instituto de Pesca, que consegue cuidar, de forma muito carinhosa, dos animais que chegam sem vida ao Laboratório de Taxidermia e Técnicas Afins, destinados a compor o acervo biológico da instituição. Alguém que consegue transformar peças biológicas, muitas vezes em processo de deterioração, em objetos de arte. Alguém que, paralelamente ao valor indiscutível de seu trabalho, tem também o grande valor de ser muito estimado por todos: colegas, estagiários e vários visitantes do Museu que têm a oportunidade de conhecê-lo no exercício de suas funções. É o profissional Nelson Dreux Costa”, revela Antônio Carlos Simões, diretor do Centro de Comunicação e Transferência do Conhecimento do Instituto de Pesca.

O diretor do Centro do Pescado Marinho, pesquisador científico Roberto da Graça Lopes, considera merecer ainda destaque a busca criativa e diária que Nelson Dreux empreende por soluções técnicas que aliem conservação biológica e apresentação estética do acervo do Museu. “Daí, para se obterem resultados não bastam dotes artísticos, pois é preciso inovar onde não existem técnicas prontas. E várias soluções já foram alcançadas e outras se encontram em processo de aperfeiçoamento, transformando o Laboratório de Taxidermia em um verdadeiro laboratório de pesquisa biológico-museográfica”, complementa Graça Lopes.
O Instituto de Pesca é vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.  


Revisão do texto: Márcia Navarro Cipólli, navarro98@gmail.com

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