Fonte: G1.globo.com
Um estudo internacional, publicado no mês passado, revela: está no Brasil a maior faixa contínua de manguezal do mundo.
Um estudo internacional, publicado no mês passado, revela: está no Brasil a maior faixa contínua de manguezal do mundo. Mas essa fonte de alimento e renda para milhares de brasileiros corre perigo. É o que mostram Vladimir Netto e Hélio Gonçalves na segunda reportagem da série especial que o Jornal Nacional apresenta esta semana.
São milhões de litros de água sendo despejados pelos rios no mar a todo momento. E uma imensa floresta: a maior faixa contínua de manguezal do mundo. Começa perto de Belém do Pará e vai até São Luis do Maranhão.
“Esses manguezais têm uma área de sete mil e quinhentos quilômetros, que é uma área superior aos manguezais da Índia e Bangladesh e os manguezais de Papua-Nova Guiné, que têm aproximadamente seis mil quilômetros de extensão”, diz o geólogo Pedro Walfir.
No país todo, são mais de 11 mil quilômetros quadrados de manguezais espalhados do Amapá até Santa Catarina. Mas só no Norte do Brasil ele encontrou condições tão boas para crescer. Basta olhar as árvores.
Na Amazônia, com a grande quantidade de chuva e a imensidão dos rios, a água fica menos salgada. Por causa disso, do sol forte o ano inteiro e da lama rica em nutrientes, as árvores de mangue crescem mais, e algumas chegam a 40 metros de altura.
O mangue vermelho faz verdadeiras esculturas na floresta. O mangue preto espalha suas raízes que saem da lama em busca de oxigênio. Pelas folhas, expulsa o sal do mar.
“O truque para ela se adaptar ao manguezal é conseguir eliminar o sal do organismo”, explica o biólogo Marcus Fernandes.
Nesse ambiente, as aves se multiplicam. O guará tem a cor que tem por causa do que ele come no manguezal. Há também muitos peixes e, claro, caranguejos, espécie-chave para esse ecossistema.
“Quando eles cavam suas tocas, as suas galerias, eles estão cavando o meio pelo qual o ar entra no chão do manguezal, no chão do manguezal, e isso é importante para o sistema”, acrescenta Marcus Fernandes.
Na beira do rio, aparecem três catadores. Os mais velhos de 12 irmãos que vão tirar o sustento de toda a família do manguezal, ou mangal, como eles chamam. Para entrar na lama eles vestem calça, luva e sapato, e rapidamente nos deixam para trás.
Andar por lá não é nada fácil. Exige esforço físico, coordenação, sorte e não pode pisar longe dos galhos. Se pisar longe dos galhos, já era. Você não tem a menor chance.
Logo a roupa e a pele se misturam à lama. Em meia hora, mais de 20 caranguejos. “O almoço já tem. Nós viemos só tirar mesmo para fazer o assado quando chegar em casa”, diz um dos meninos.
Eles lavam os caranguejos no rio sob a chuva da Amazônia. São para o almoço. Mas na maioria das vezes os caranguejos vão mesmo é para o mercado.
Na feira de Bragança, norte do Pará, caranguejo não falta.
“Aqui é domingo a domingo. Quando não tem, o pessoal está procurando, tem que ter todo dia”, conta um vendedor.
Muitos não aguentam e morrem. A cena incomoda até quem é de lá.
“Isso não é comida típica para a gente, isso é alimentação diária. A gente fica com medo de o tempo comprometer. A falta de consciência de conservação e preservação e comprometer o futuro da espécie”, reflete o vidraceiro Fábio José Ribeiro dos Santos.
O pesquisador acha que é possível preservar o manguezal para as próximas gerações. “Eu acredito que os manguezais podem garantir e coexistir com futuras gerações desde que a gente tenha habilidade para utilizá-lo de forma sustentável e as nossas autoridades tenham a sabedoria de aprovarem leis que permitam a conservação desse ecossistema”, conclui o geólogo Pedro Walfir.
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